terça-feira, 16 de setembro de 2014

A história da África

A história contemporânea da África do Sul pode ser dividida em duas fases: Antes e depois de Nelson Mandela. O antes se refere ao tempo em que o país, ao tolerar o regime de segregação racial conhecido como apartheid - ao longo de quase quatro décadas - foi considerado pela Comunidade Internacional um Estado fora da lei. O depois, inicia em 1990 quando Mandela, após passar 27 anos na prisão (por sua oposição a este nefasto regime) é livre e confunde o mundo ao buscar a reconciliação entre as ‘raças’ polarizadas da África do Sul, defendendo os princípios de construção da nação e de governança cooperativa.
 

De fato, sem nenhum receio de ser mal entendido, ouso dizer que Mandela, como resultado de sua capacidade de dirigir a África do Sul durante o período de seu renascimento, foi reconhecido como um negociador internacional benevolente e pacificador por excelência. O resultado é que conseguiu o que parecia impossível: mudou as mentes de milhões de pessoas. Não apenas na África, mas em todo o mundo.
 

Assim, Mandela escreveu seu nome na história recente da humanidade com a simplicidade dos grandes homens, redundando na recuperação do prestígio da África do Sul como grande potência do continente africano.
 

Mas agora surgem perguntas sobre o futuro da África do Sul sem  Nelson Mandela. Como a nação vai se comportar? Surgirão novas lideranças no país? Há risco para instabilidade política? A intolerância racial pode voltar à tona?
 

Para tentar achar respostas, conversei com vários sul-africanos durante minha última visita a Johanesburgo. A maioria da população já parecia conformada com a perda do “Madiba” - como é carinhosamente chamado por seus seguidores-, mas o que se percebe é o profundo sentimento de orfandade, embora ele tenha saído oficialmente da vida pública há 14 anos.
 

Na tentativa de entender os rumos da África do Sul no período pós Mandela é imperativo atentar para a formação étnica do país. Neste sentido, o maior temor com a sua perda pode residir na dissensão entre as duas maiores tribos - os Xhosas e os Zulus. Mandela é Xhosa, mas passou grande parte de sua presidência cultivando boas relações com os Zulus, que ainda se consideram parte de uma grande tradição guerreira.
 

Outra demanda, que também deve estar na lista de preocupações do atual presidente sul africano, Jacob Zuma diz respeito aos conflitos relacionados à apropriação pelo governo das terras improdutivas, a exemplo do que aconteceu no governo de Robert Mugabe, no vizinho Zimbabwe. Alguns agricultores têm se armado e alegam que pretendem lutar para defender aquilo em que acreditam ser deles.
 

É importante observar, entretanto, que a partir de uma perspectiva pragmática, tanto dentro como fora do país, há um medo – para mim exagerado - que a morte de Mandela ataque a alma do país.
 

Mas, além disso - e do possível impacto sobre as eleições gerais do próximo ano - a sua morte provavelmente terá pouco efeito além de acelerar um pouco as tendências sociais e políticas já em andamento. Assim, o domínio político do partido de Mandela, o Congresso Nacional Africano (sigla ANC) deve prevalecer. Não restam dúvidas que simbolicamente Mandela foi o elo que manteve unida a Nação Arco Iris por 19 anos e que certamente ocupa um lugar central na autoimagem do país.
 

O maior exemplo de Mandela, entretanto reside no fato de que tendo sido discriminado pela cor de sua pele, legou à humanidade os maiores exemplos: o amor, a paz e a reconciliação, palavras que para muita gente são difíceis de entender. 

Fonte: http://www.opovo.com.br/app/opovo/especiais/nelsonmandela/2013/12/06/notmandela,3173243/antes-e-depois.shtml

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