A história contemporânea da África do Sul pode ser dividida em duas
fases: Antes e depois de Nelson Mandela. O antes se refere ao tempo em
que o país, ao tolerar o regime de segregação racial conhecido como
apartheid - ao longo de quase quatro décadas - foi considerado pela
Comunidade Internacional um Estado fora da lei. O depois, inicia em 1990
quando Mandela, após passar 27 anos na prisão (por sua oposição a este
nefasto regime) é livre e confunde o mundo ao buscar a reconciliação
entre as ‘raças’ polarizadas da África do Sul, defendendo os princípios
de construção da nação e de governança cooperativa.
De
fato, sem nenhum receio de ser mal entendido, ouso dizer que Mandela,
como resultado de sua capacidade de dirigir a África do Sul durante o
período de seu renascimento, foi reconhecido como um negociador
internacional benevolente e pacificador por excelência. O resultado é
que conseguiu o que parecia impossível: mudou as mentes de milhões de
pessoas. Não apenas na África, mas em todo o mundo.
Assim,
Mandela escreveu seu nome na história recente da humanidade com a
simplicidade dos grandes homens, redundando na recuperação do prestígio
da África do Sul como grande potência do continente africano.
Mas
agora surgem perguntas sobre o futuro da África do Sul sem Nelson
Mandela. Como a nação vai se comportar? Surgirão novas lideranças no
país? Há risco para instabilidade política? A intolerância racial pode
voltar à tona?
Para tentar achar respostas, conversei com
vários sul-africanos durante minha última visita a Johanesburgo. A
maioria da população já parecia conformada com a perda do “Madiba” -
como é carinhosamente chamado por seus seguidores-, mas o que se
percebe é o profundo sentimento de orfandade, embora ele tenha saído
oficialmente da vida pública há 14 anos.
Na tentativa de
entender os rumos da África do Sul no período pós Mandela é imperativo
atentar para a formação étnica do país. Neste sentido, o maior temor
com a sua perda pode residir na dissensão entre as duas maiores tribos -
os Xhosas e os Zulus. Mandela é Xhosa, mas passou grande parte de sua
presidência cultivando boas relações com os Zulus, que ainda se
consideram parte de uma grande tradição guerreira.
Outra
demanda, que também deve estar na lista de preocupações do atual
presidente sul africano, Jacob Zuma diz respeito aos conflitos
relacionados à apropriação pelo governo das terras improdutivas, a
exemplo do que aconteceu no governo de Robert Mugabe, no vizinho
Zimbabwe. Alguns agricultores têm se armado e alegam que pretendem lutar
para defender aquilo em que acreditam ser deles.
É
importante observar, entretanto, que a partir de uma perspectiva
pragmática, tanto dentro como fora do país, há um medo – para mim
exagerado - que a morte de Mandela ataque a alma do país.
Mas,
além disso - e do possível impacto sobre as eleições gerais do próximo
ano - a sua morte provavelmente terá pouco efeito além de acelerar um
pouco as tendências sociais e políticas já em andamento. Assim, o
domínio político do partido de Mandela, o Congresso Nacional Africano
(sigla ANC) deve prevalecer. Não restam dúvidas que simbolicamente
Mandela foi o elo que manteve unida a Nação Arco Iris por 19 anos e que
certamente ocupa um lugar central na autoimagem do país.
O
maior exemplo de Mandela, entretanto reside no fato de que tendo sido
discriminado pela cor de sua pele, legou à humanidade os maiores
exemplos: o amor, a paz e a reconciliação, palavras que para muita gente
são difíceis de entender.
Fonte: http://www.opovo.com.br/app/opovo/especiais/nelsonmandela/2013/12/06/notmandela,3173243/antes-e-depois.shtml
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